Opinião
Lágrimas do exílio
Sérgio Cruz Lima
Em agosto de 1888, com a saúde abalada, dom Pedro II deixara a Europa e retornara ao Brasil. Entre seus aliados e detratores, mesmo antes de seu retorno, muito já se questionava sobre o futuro da monarquia brasileira. A princesa Isabel, herdeira do trono, carola, desinteressada e despreparada para o exercício do governo, desolava até os mais fervorosos monarquistas. Apática, a população parecia aceitar que, morto o imperador, o regime expiraria.Sem maiores traumatismos.
Meses depois, sem derramamento de sangue, a República é proclamada após uma comédia de erros e mal-entendidos. Toda a operação fora tão canhestra e constrangedora que nenhum líder republicano ou militar de alta patente tivera a coragem de encarar o imperador defenestrado. Mandaram recado por um major, que lhe noticia o fato. A família imperial tem 24h para deixar o País! "Deodoro também está metido nisso?", pergunta dom Pedro. Quando o mensageiro responde afirmativamente, o imperador desabafa: "Então estão todos loucos". Na historiografia brasileira, não há registro de maior indignação de dom Pedro do que esse simples desabafo. Ao invés de revolta, é tomado pela apatia e, possivelmente, um certo alívio. Envelhecido e doente, poderia voltar à França, onde faria o que mais lhe deliciava: estudar línguas, traduzir textos sagrados, versejar, manter o elo com a elite intelectual, cultural e científica do mundo.
Na viagem, porém, o destino lhe traria mais dois dissabores. Ainda a bordo do Alagoas, seu neto mais velho, o príncipe Pedro Augusto, filho da princesa Leopoldina e do duque de Saxe, sofreu grave crise psicótica de paranoia. Convencido de que o comandante do navio teria ordens para jogar a família imperial ao mar, o príncipe o agride. Pior: tenta estrangulá-lo. Pelo resto da viagem, Pedro Augusto, mantido sob vigilância, é restrito ao camarote. Mais tarde, já em solo luso, deprimida pelo exílio forçado, a imperatriz Teresa Cristina morre, vítima de um ataque cardíaco, em dezembro de 1889; internado, o príncipe suicida-se.
De luto pela morte da imperatriz, a família imperial deixa Portugal e embarca para a França. O sonho do velho imperador era descansar em Cannes, antes de retornar ao Brasil, pois até então o governo republicano ainda não decretara o seu banimento. Entre os íntimos, dom Pedro brincava com a ideia de que, se convidado, aceitaria voltar ao Brasil como presidente da República. Lembrava-se da abdicação de seu pai, em 7 de abril: "Abdicaria como meu pai se não me achasse ainda capaz de trabalhar para a evolução natural da República."
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